Celas com grades duplas e portas blindadas: o "Jailhotel Löwengraben" é uma antiga penitenciária que se transformou em hotel para mochileiros, famílias e aventureiros que visitam Lucerna.
O exótico local também esconde histórias como a da guilhotina encontrada no seu sotão, cuja história macabra pode ser lida logo abaixo.
A penitenciária ideal: o detento chega à recepção, cumprimenta a recepcionista, paga sua diária, carrega ele próprio as bagagens até a cela e fecha a porta blindada depois de desejar boa-noite aos guardas.
Não, a justiça helvética ainda está longe ter encontrado um sistema penal autopunitivo e sem custos para o contribuinte. Mas a idéia pode virar exemplo através do "Jailhotel Löwengraben", uma antiga penitenciária que hoje já não abriga bandidos, mas sim hóspedes.
Uma prisão histórica
A Prisão Central do Cantão de Lucerna foi construída em 1862 no centro histórico da cidade. O nome "Löwengraben" vem das moedas de ouro que eram utilizadas na época para pagar os operários, as chamadas "Lion d'Or". Por não atender mais às normas de segurança modernas, o governo cantonal decidiu fechá-la em 1998 e construir uma nova penitenciária em Kriens, pequeno vilarejo a oeste de Lucerna.
A questão para as autoridades judiciárias era: o que fazer com uma ex-penitenciária que não podia ser demolida por ter sido tombada pelo patrimônio histórico? Depois de debater várias possibilidades, a solução mais lógica acabou sendo transformá-la em um hotel. Espaço é que o não falta.
Pernoites baratos
Quando foi fechada, a prisão dispunha de 55 celas para homens, cinco para mulheres e uma cela de isolamento, também chamada de "cela de borracha" por ter sido revestida com o material para evitar que o preso punido batesse com a cabeça na parede. Nos seus trinta últimos anos de funcionamento ela serviu para abrigar pessoas com processos em andamento e jovens que recusavam prestar o serviço militar.
As reformas foram superficiais. Os arquitetos incluíram duchas e banheiros na grande maioria das celas e transformaram o antigo refeitório num restaurante mais acolhedor para o gosto do turista. Em 1999, a ex-penitenciária foi reaberta com o nome de "Hotel Löwengraben". A idéia por traz do projeto: oferecer aos viajantes pernoites baratos no centro histórico de Lucerna, um dos destinos turísticos mais importantes da Suíça, e também um gostinho de aventura.
"Para aumentar ainda mais esse charme, espalhamos em todos os corredores pequenos quadros com textos retirados do diário do antigo diretor da prisão. Elas falam de tentativas de fugas, de prisioneiros conhecidos e outros fatos curiosos", conta Lobi Phala, gerente do hotel, que foi recentemente rebatizado de "Jailhotel Löwengraben".
Achado macabro
Ao limpar o sótão da ex-prisão, funcionários do hotel encontraram um objeto que lhes deu calafrios: uma guilhotina. "Ela estava exposta no local, mas ninguém mais lhe dava atenção. Ninguém podia imaginar que ela já havia matado tanta gente", lembra-se Phala.
A peça história foi fabricada em 1836 em Zurique e depois vendida ou emprestada entre os vários cantões suíços com toda sua estrutura. Na época, as autoridades judiciais consideravam-na uma forma "humana" de executar os presos condenados à morte. Depois de rodar muitos quilômetros, ela terminou sendo comprada em 1904 pela bagatela de mil francos pelas autoridades de Lucerna. Nesse ano o cantão havia reintroduzido a pena de morte.
Não se sabe quantas cabeças a guilhotina fez rolar, mas sua última utilização prática foi com Hans Vollenweider, um perigoso meliante acusado de ter cometido vários assassinatos. Sua execução ocorreu em 18 de outubro de 1940 em Sarnen, vilarejo do cantão de Obwalden, que havia pedido aos colegas de Lucerna o empréstimo do prático aparelho. Hoje a peça é uma das maiores atrações no Museu de História de Lucerna.
Nostálgicos
O ambiente carcerário do "Jailhotel Löwengraben" continua presente. A construção mantém sua fachada cinza e mórbida, com grades duplas nas janelas. Nos corredores, as portas maciças de aço e madeira estão dispostas uma ao lado das outras. A grande maioria das celas continua minúscula e claustrofóbica: pouco mais de sete metros quadrados.
"Têm hóspedes que ficam apenas algumas horas no hotel e depois pedem para cancelar o pernoite. Eles dizem que não estão se sentindo bem no lugar", explica Phala. "Ex-detentos também costumam aparecer para dar uma espiada, mas nunca se hospedam. Eles costumam dizer que já passaram tempo suficiente atrás desses muros".
O gerente lamenta as desistências, mas ressalta que o hotel também oferece luxo. Alguns espaços da ex-prisão foram reformados para abrigar suítes. Uma delas é a "Suíte do Diretor", a antiga sala de trabalho do diretor da prisão que até cofre tem. Também a "Suíte Biblioteca" é uma das atrações: tendo funcionado como biblioteca dos detentos, ela ainda dispõe nas estantes das mesmas obras lidas centenas de vezes pelos detentos no passado. Um quarto mais caro é a "Suíte Barabas", batizada com o nome do preso mais antigo, que decorou o espaço utilizado no passado pelos presos para jogos de cartas e outros passatempos com uma grande pintura de mural, também encontrada na sua própria cela.
Quem faz questão do original pode pernoitar nas celas "unplugged". Graças aos serviços cantonais de defesa do patrimônio histórico, elas foram mantidas no estado original, ou seja, não dispõem de chuveiro ou outros confortos da modernidade. Elas também são as mais baratas e custam apenas 24 euros por cabeça, quando são divididas a três durante os meses de inverno. No preço está incluído o café da manhã. Quem quiser, pode ficar à pão e água.
O exótico local também esconde histórias como a da guilhotina encontrada no seu sotão, cuja história macabra pode ser lida logo abaixo.
A penitenciária ideal: o detento chega à recepção, cumprimenta a recepcionista, paga sua diária, carrega ele próprio as bagagens até a cela e fecha a porta blindada depois de desejar boa-noite aos guardas.
Não, a justiça helvética ainda está longe ter encontrado um sistema penal autopunitivo e sem custos para o contribuinte. Mas a idéia pode virar exemplo através do "Jailhotel Löwengraben", uma antiga penitenciária que hoje já não abriga bandidos, mas sim hóspedes.
Uma prisão histórica
A Prisão Central do Cantão de Lucerna foi construída em 1862 no centro histórico da cidade. O nome "Löwengraben" vem das moedas de ouro que eram utilizadas na época para pagar os operários, as chamadas "Lion d'Or". Por não atender mais às normas de segurança modernas, o governo cantonal decidiu fechá-la em 1998 e construir uma nova penitenciária em Kriens, pequeno vilarejo a oeste de Lucerna.
A questão para as autoridades judiciárias era: o que fazer com uma ex-penitenciária que não podia ser demolida por ter sido tombada pelo patrimônio histórico? Depois de debater várias possibilidades, a solução mais lógica acabou sendo transformá-la em um hotel. Espaço é que o não falta.
Pernoites baratos
Quando foi fechada, a prisão dispunha de 55 celas para homens, cinco para mulheres e uma cela de isolamento, também chamada de "cela de borracha" por ter sido revestida com o material para evitar que o preso punido batesse com a cabeça na parede. Nos seus trinta últimos anos de funcionamento ela serviu para abrigar pessoas com processos em andamento e jovens que recusavam prestar o serviço militar.
As reformas foram superficiais. Os arquitetos incluíram duchas e banheiros na grande maioria das celas e transformaram o antigo refeitório num restaurante mais acolhedor para o gosto do turista. Em 1999, a ex-penitenciária foi reaberta com o nome de "Hotel Löwengraben". A idéia por traz do projeto: oferecer aos viajantes pernoites baratos no centro histórico de Lucerna, um dos destinos turísticos mais importantes da Suíça, e também um gostinho de aventura.
"Para aumentar ainda mais esse charme, espalhamos em todos os corredores pequenos quadros com textos retirados do diário do antigo diretor da prisão. Elas falam de tentativas de fugas, de prisioneiros conhecidos e outros fatos curiosos", conta Lobi Phala, gerente do hotel, que foi recentemente rebatizado de "Jailhotel Löwengraben".
Achado macabro
Ao limpar o sótão da ex-prisão, funcionários do hotel encontraram um objeto que lhes deu calafrios: uma guilhotina. "Ela estava exposta no local, mas ninguém mais lhe dava atenção. Ninguém podia imaginar que ela já havia matado tanta gente", lembra-se Phala.
A peça história foi fabricada em 1836 em Zurique e depois vendida ou emprestada entre os vários cantões suíços com toda sua estrutura. Na época, as autoridades judiciais consideravam-na uma forma "humana" de executar os presos condenados à morte. Depois de rodar muitos quilômetros, ela terminou sendo comprada em 1904 pela bagatela de mil francos pelas autoridades de Lucerna. Nesse ano o cantão havia reintroduzido a pena de morte.
Não se sabe quantas cabeças a guilhotina fez rolar, mas sua última utilização prática foi com Hans Vollenweider, um perigoso meliante acusado de ter cometido vários assassinatos. Sua execução ocorreu em 18 de outubro de 1940 em Sarnen, vilarejo do cantão de Obwalden, que havia pedido aos colegas de Lucerna o empréstimo do prático aparelho. Hoje a peça é uma das maiores atrações no Museu de História de Lucerna.
Nostálgicos
O ambiente carcerário do "Jailhotel Löwengraben" continua presente. A construção mantém sua fachada cinza e mórbida, com grades duplas nas janelas. Nos corredores, as portas maciças de aço e madeira estão dispostas uma ao lado das outras. A grande maioria das celas continua minúscula e claustrofóbica: pouco mais de sete metros quadrados.
"Têm hóspedes que ficam apenas algumas horas no hotel e depois pedem para cancelar o pernoite. Eles dizem que não estão se sentindo bem no lugar", explica Phala. "Ex-detentos também costumam aparecer para dar uma espiada, mas nunca se hospedam. Eles costumam dizer que já passaram tempo suficiente atrás desses muros".
O gerente lamenta as desistências, mas ressalta que o hotel também oferece luxo. Alguns espaços da ex-prisão foram reformados para abrigar suítes. Uma delas é a "Suíte do Diretor", a antiga sala de trabalho do diretor da prisão que até cofre tem. Também a "Suíte Biblioteca" é uma das atrações: tendo funcionado como biblioteca dos detentos, ela ainda dispõe nas estantes das mesmas obras lidas centenas de vezes pelos detentos no passado. Um quarto mais caro é a "Suíte Barabas", batizada com o nome do preso mais antigo, que decorou o espaço utilizado no passado pelos presos para jogos de cartas e outros passatempos com uma grande pintura de mural, também encontrada na sua própria cela.
Quem faz questão do original pode pernoitar nas celas "unplugged". Graças aos serviços cantonais de defesa do patrimônio histórico, elas foram mantidas no estado original, ou seja, não dispõem de chuveiro ou outros confortos da modernidade. Elas também são as mais baratas e custam apenas 24 euros por cabeça, quando são divididas a três durante os meses de inverno. No preço está incluído o café da manhã. Quem quiser, pode ficar à pão e água.
A opção mais barata no Jailhotel: cela com dois beliches.
swissinfo, Alexander Thoele
Nenhum comentário:
Postar um comentário