Viajar na Suíça não significa gastar fortunas em hotéis de luxo. Uma alternativa barata e educativa é o pernoite em uma típica fazenda do Emmental, cujos itens de conforto são cama de palha, penico, luz de velas e água de bacia.
A oferta está inspirada na série de televisão "Viver como nos tempos de Jeremias Gotthelf", um retorno a essa região agrícola da Suíça como foi vivida pelo famoso escritor suíço no século XIX.
Foi um dos maiores sucessos da televisão suíça. Com o título "Viver como nos tempos de Jeremias Gotthelf", o documentário transmitido pelo canal estatal SF1 exibiu diariamente um programa de vinte e cinco minutos, mostrando o cotidiano de uma família em uma típica fazenda do Emmental. O detalhe é que eles viviam sob as mesmas condições que imperavam na época do famoso escritor suíço, o século XIX.
Para muitos habitantes do país dos Alpes, os livros de Jeremias Gotthelf descrevem a "verdadeira" Suíça. Era um país de pequenos agricultores, que teimavam em sobreviver em regiões montanhosas de vales profundos. Séculos depois o Emmental modernizou-se, mas mantém até hoje seu caráter rural. Lá as tradições centenárias ainda dão o tom da vida.
As cenas do programa foram realizadas nessa região. Elas mostravam como a família, que na realidade vinha de um centro urbano e não tinha a menor idéia de agricultura, lutava para sobreviver do que plantava, ordenhava e fabricava. Isso sem luz, água corrente ou outros luxos da modernidade. A fórmula foi perfeita: a primeira série, transmitida no verão de 2004, foi vista por 616 mil telespectadores; a segunda, no inverno de 2005, por 863 mil.
Pacote turístico
A oferta está inspirada na série de televisão "Viver como nos tempos de Jeremias Gotthelf", um retorno a essa região agrícola da Suíça como foi vivida pelo famoso escritor suíço no século XIX.
Foi um dos maiores sucessos da televisão suíça. Com o título "Viver como nos tempos de Jeremias Gotthelf", o documentário transmitido pelo canal estatal SF1 exibiu diariamente um programa de vinte e cinco minutos, mostrando o cotidiano de uma família em uma típica fazenda do Emmental. O detalhe é que eles viviam sob as mesmas condições que imperavam na época do famoso escritor suíço, o século XIX.
Para muitos habitantes do país dos Alpes, os livros de Jeremias Gotthelf descrevem a "verdadeira" Suíça. Era um país de pequenos agricultores, que teimavam em sobreviver em regiões montanhosas de vales profundos. Séculos depois o Emmental modernizou-se, mas mantém até hoje seu caráter rural. Lá as tradições centenárias ainda dão o tom da vida.
As cenas do programa foram realizadas nessa região. Elas mostravam como a família, que na realidade vinha de um centro urbano e não tinha a menor idéia de agricultura, lutava para sobreviver do que plantava, ordenhava e fabricava. Isso sem luz, água corrente ou outros luxos da modernidade. A fórmula foi perfeita: a primeira série, transmitida no verão de 2004, foi vista por 616 mil telespectadores; a segunda, no inverno de 2005, por 863 mil.
Pacote turístico
Os habitantes ficaram felizes do Emmental ter servido de cenário para o programa. Comerciantes e hoteleiros têm agora a esperança de que região possa ser descoberta pelo turismo. A realidade é que, apesar das suas belezas naturais e um quase intocado ambiente campestre e tradicional, a maior parte dos viajantes na Suíça acaba escolhendo outros destinos. "Obviamente todos querem ver as grandes montanhas, os Alpes, e esquecem as regiões da planície", explica Ruth Zemt, representante da Pro-Emmental.
Para inverter o quadro, o órgão oficial de turismo da região se alia à televisão. "O sucesso midiático da série fez com que muitas pessoas ligassem para nós, perguntando se seria possível encontrar uma casa campestre com as mesmas condições vistas na TV. Assim lançamos um programa, onde fazendeiros da região oferecem suas casas para turistas pernoitarem. A única condição é que a habitação corresponda a certas condições".
O pacote foi criado e recebeu o nome de "Um pernoite como nos tempos de Jeremias Gotthelf". O turista pode escolher entre alugar uma choupana histórica (ler reportagem: "Casas para viver como no tempo dos avôs") ou passar uma noite com uma família de agricultores do Emmental. Uma delas é a família Moser, que vive num minúsculo vilarejo chamado Siegenthal, escondido entres as colinas do Emmental.
Não há banheiro
A família cobra apenas 48 francos suíços pelo pernoite. A residência é uma construção histórica, que corresponde à arquitetura típica das fazendas na região. O charme do local não está seguramente no conforto. "Oferecemos um quarto sem energia elétrica, água corrente, banheiro e aquecimento. O hóspede dorme num colchão de palha e precisa usar o penico para suas necessidades. É realmente como viver nos tempos de Gotthelf", detalha Werner Moser
Ele e sua esposa, Elisabeth, precisam interromper o trabalho para receber os visitantes. Geralmente o casal passa o dia no estábulo, onde estão as 16 vacas leiteiras ou nas plantações. Além disso eles cuidam dos inúmeros bezerros, porcos, cavalos – utilizados para o trabalho nas encostas íngremes da região - muitas galinhas e uma cadela.
Os quatro filhos adolescentes também vivem no grande chalé alpino. Eles nem sabem quando a casa foi construída. "Estamos há mais de cinco gerações", conta Werner. Dois deles aprenderam a profissão e vão também trabalhar na agricultura.
A parte da casa habitada pela família dispõe de todos os confortos da modernidade. O aquecimento é a base de lenha. Tem televisão com recepção via satélite e até mesmo internet. Porém o quarto reservado para os visitantes é o único que realmente corresponde à vida no século XIX. "No passado, esses quartos eram reservados para os empregados. Por isso eles nunca tinham muito conforto", justifica Elisabeth.
À primeira vista, a impressão é agradável. O piso é baixo e quase não pode se ficar em pé. Porém o piso e os móveis são de boa madeira, alguns até talhados à mão. A cama tem pesados colchões e parecem ser ideais para um sono pesado. A decoração é campestre: cortinas nas janelas, velas em cima dos criados mudos e a bíblia na gaveta. O detalhe especial está na bacia e na jarra de água, que servem para o toalete da manhã. O penico embaixo da cama também é um elemento importante. Afinal, o banheiro mais próximo está do outro lado do casarão, atravessando o estábulo.
Toque literário para a noite de Gotthelf
Apesar da rusticidade do quarto de hóspedes, a família Moser não esqueceu que inspiração faz parte também da oferta. Vários livros de Jeremias Gotthelf estão espalhados em cima da escrivaninha e até mesmo escondidos num vão da parede. "Eles são para pessoas que tenham vontade de ler um pouco à luz de velas e sonhar que voltaram no tempo", brinca Werner.
O sono vem bem rápido. O dia termina cedo na família Moser. Por volta das seis da tarde a ordenha está pronta e as vacas são soltas para passar a noite no pasto. Depois do lanche, o casal se despede e entra nos seus aposentos. No pequeno vilarejo de Siegenthal o sol começa a se pôr e, em poucas horas, o breu é completo.
Dormir em cima de palha é uma questão de hábito. No inicio ela pica e faz ruídos estranhos. Também a dureza não corresponde a dos colchões modernos. Porém a palha é anatômica e se molda ao corpo, dando um soco lá e cá. O barulho dos animais noturnos e as velas acesas no quarto completam o ambiente. Em poucos minutos o sono chega. É fácil imaginar como um empregado se sentia no passado, depois de passar um dia inteiro ceifando um campo.
O chato é acordar no meio da noite. A única dificuldade é encontrar o penico na escuridão. Porém tudo é uma questão de hábito: o segredo é deixá-lo sempre no mesmo lugar e saber onde estão os fósforos para acender a vela.
O café da manhã e a despedida
O dia começa às cinco e meia da manhã. As vacas são buscadas no pasto e entram no vilarejo numa procissão barulhenta. Cada uma delas tem um sino, que fazem uma música muito peculiar. Essa é a música da Suíça.
O casal Moser recebe costuma receber os hóspedes na cozinha de casa. Eles já estão há muito tempo despertos. Com orgulho, eles oferecem o café da manhã, também conhecido no dialeto em alemão como "Zmorge". Para degustar: "rösti" - prato típico suíço com batatas assadas e toucinho - lingüiças caseiras, pão, manteiga, geléias de frutas do quintal, mel e o leite recém-tirado da vaca. É preciso ter um apetite de agricultor para comer tudo.
Durante a refeição, os Moser aproveitam para perguntar sobre a vida dos visitantes. Eles têm muita curiosidade, sobretudo se estes vêm de outros países. Se perguntados sobre o retorno financeiro do negócio, eles não escondem que agricultura é realmente a atividade principal, e paixão, da família.
E por que abrir então as portas de casa para estranhos? Elisabeth e Werner Moser se entreolham e dão uma risada. "Na verdade é a gente que aproveita da presença dos nossos hóspedes. Eles contam tanto para nós o que está acontecendo lá fora. Trabalhamos tanto o dia todo, que muitas vezes esquecemos que o mundo é cheio de diferenças". E dessa vez, o hóspede é do Brasil.
swissinfo, Alexander Thoele
Para inverter o quadro, o órgão oficial de turismo da região se alia à televisão. "O sucesso midiático da série fez com que muitas pessoas ligassem para nós, perguntando se seria possível encontrar uma casa campestre com as mesmas condições vistas na TV. Assim lançamos um programa, onde fazendeiros da região oferecem suas casas para turistas pernoitarem. A única condição é que a habitação corresponda a certas condições".
O pacote foi criado e recebeu o nome de "Um pernoite como nos tempos de Jeremias Gotthelf". O turista pode escolher entre alugar uma choupana histórica (ler reportagem: "Casas para viver como no tempo dos avôs") ou passar uma noite com uma família de agricultores do Emmental. Uma delas é a família Moser, que vive num minúsculo vilarejo chamado Siegenthal, escondido entres as colinas do Emmental.
Não há banheiro
A família cobra apenas 48 francos suíços pelo pernoite. A residência é uma construção histórica, que corresponde à arquitetura típica das fazendas na região. O charme do local não está seguramente no conforto. "Oferecemos um quarto sem energia elétrica, água corrente, banheiro e aquecimento. O hóspede dorme num colchão de palha e precisa usar o penico para suas necessidades. É realmente como viver nos tempos de Gotthelf", detalha Werner Moser
Ele e sua esposa, Elisabeth, precisam interromper o trabalho para receber os visitantes. Geralmente o casal passa o dia no estábulo, onde estão as 16 vacas leiteiras ou nas plantações. Além disso eles cuidam dos inúmeros bezerros, porcos, cavalos – utilizados para o trabalho nas encostas íngremes da região - muitas galinhas e uma cadela.
Os quatro filhos adolescentes também vivem no grande chalé alpino. Eles nem sabem quando a casa foi construída. "Estamos há mais de cinco gerações", conta Werner. Dois deles aprenderam a profissão e vão também trabalhar na agricultura.
A parte da casa habitada pela família dispõe de todos os confortos da modernidade. O aquecimento é a base de lenha. Tem televisão com recepção via satélite e até mesmo internet. Porém o quarto reservado para os visitantes é o único que realmente corresponde à vida no século XIX. "No passado, esses quartos eram reservados para os empregados. Por isso eles nunca tinham muito conforto", justifica Elisabeth.
À primeira vista, a impressão é agradável. O piso é baixo e quase não pode se ficar em pé. Porém o piso e os móveis são de boa madeira, alguns até talhados à mão. A cama tem pesados colchões e parecem ser ideais para um sono pesado. A decoração é campestre: cortinas nas janelas, velas em cima dos criados mudos e a bíblia na gaveta. O detalhe especial está na bacia e na jarra de água, que servem para o toalete da manhã. O penico embaixo da cama também é um elemento importante. Afinal, o banheiro mais próximo está do outro lado do casarão, atravessando o estábulo.
Toque literário para a noite de Gotthelf
Apesar da rusticidade do quarto de hóspedes, a família Moser não esqueceu que inspiração faz parte também da oferta. Vários livros de Jeremias Gotthelf estão espalhados em cima da escrivaninha e até mesmo escondidos num vão da parede. "Eles são para pessoas que tenham vontade de ler um pouco à luz de velas e sonhar que voltaram no tempo", brinca Werner.
O sono vem bem rápido. O dia termina cedo na família Moser. Por volta das seis da tarde a ordenha está pronta e as vacas são soltas para passar a noite no pasto. Depois do lanche, o casal se despede e entra nos seus aposentos. No pequeno vilarejo de Siegenthal o sol começa a se pôr e, em poucas horas, o breu é completo.
Dormir em cima de palha é uma questão de hábito. No inicio ela pica e faz ruídos estranhos. Também a dureza não corresponde a dos colchões modernos. Porém a palha é anatômica e se molda ao corpo, dando um soco lá e cá. O barulho dos animais noturnos e as velas acesas no quarto completam o ambiente. Em poucos minutos o sono chega. É fácil imaginar como um empregado se sentia no passado, depois de passar um dia inteiro ceifando um campo.
O chato é acordar no meio da noite. A única dificuldade é encontrar o penico na escuridão. Porém tudo é uma questão de hábito: o segredo é deixá-lo sempre no mesmo lugar e saber onde estão os fósforos para acender a vela.
O café da manhã e a despedida
O dia começa às cinco e meia da manhã. As vacas são buscadas no pasto e entram no vilarejo numa procissão barulhenta. Cada uma delas tem um sino, que fazem uma música muito peculiar. Essa é a música da Suíça.
O casal Moser recebe costuma receber os hóspedes na cozinha de casa. Eles já estão há muito tempo despertos. Com orgulho, eles oferecem o café da manhã, também conhecido no dialeto em alemão como "Zmorge". Para degustar: "rösti" - prato típico suíço com batatas assadas e toucinho - lingüiças caseiras, pão, manteiga, geléias de frutas do quintal, mel e o leite recém-tirado da vaca. É preciso ter um apetite de agricultor para comer tudo.
Durante a refeição, os Moser aproveitam para perguntar sobre a vida dos visitantes. Eles têm muita curiosidade, sobretudo se estes vêm de outros países. Se perguntados sobre o retorno financeiro do negócio, eles não escondem que agricultura é realmente a atividade principal, e paixão, da família.
E por que abrir então as portas de casa para estranhos? Elisabeth e Werner Moser se entreolham e dão uma risada. "Na verdade é a gente que aproveita da presença dos nossos hóspedes. Eles contam tanto para nós o que está acontecendo lá fora. Trabalhamos tanto o dia todo, que muitas vezes esquecemos que o mundo é cheio de diferenças". E dessa vez, o hóspede é do Brasil.
swissinfo, Alexander Thoele
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